Poluição no rio Tietê em São Paulo gera onda de espuma; menos da metade do esgoto do país é coleta
O Brasil vem conseguindo reduções significativas de suas emissões de carbono, segundo dados do governo federal. Em 2012, o volume era 41,1% menor do que em 2005, graças a ações em setores como agricultura, florestas e uso do solo.
Mas, de acordo com a cientista Suzana Kahn, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), estas emissões podem voltar a aumentar se não houver um esforço de redução nas cidades brasileiras.
A pedido da fundação americana Bloomberg Philanthropies, Kahn realizou um estudo em parceria com a pesquisadora Isabel Brandão para avaliar oportunidades de redução de emissões nas áreas urbanas do país.
O trabalho mostra que uma melhor gestão em três áreas – resíduos (esgoto e lixo), transporte e uso eficiente de energia - pode dar um grande impulso à mitigação de impactos ambientais e, ao mesmo tempo, aponta que pouco tem sido feito em relação a elas.
"Ações neste sentido ainda são muito incipientes. Há uma ou outra iniciativa isolada voltada para pontos específicos, como qualidade do ar ou congestionamento e que acaba gerando benefícios para o clima, mas o objetivo principal não tem como foco o meio ambiente", afirma Kahn.
Amanada Eichel, da Bloomberg Philanthropies e conselheira especial para assuntos climáticos do ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg, diz que, se o Brasil não incluir metas voltadas para cidades em seus planos de redução de emissões, o país pode retroceder em suas metas climáticas.
"O Brasil já é muito urbano: 84% da população vive em cidades, e este índice subirá para 90% em cinco anos. No entanto, a política climática nacional é muito focada em ações em florestas e na agricultura", afirma Eichel.
"Os resultados destas ações têm sido impressionantes, mas o país ainda não percebeu a oportunidade que existe nas cidades. Se não agir em outros setores além destes em que já vem atuando, a expectativa é que as emissões do país voltem a aumentar entre 2020 e 2030."
Na prática, isso pode vir a comprometer metas anunciadas pela presidente Dilma Rousseff na ONU em setembro e que serão apresentadas na Conferência do Clima em Paris, que terá início em 30 de novembro. Entre os principais objetivos, está a redução das emissões em 43% até 2030.
Entre as ações propostas para isso - fim do desmatamento ilegal, restauração de florestas e pastagens e aumento da participação de fontes renováveis na matriz energética -, não há nenhuma voltada especificamente para as áreas destacas no relatório da Coppe-UFRJ.
"As cidades têm um poder muito grande neste sentido, porque estão mais próximas dos cidadãos, e seus gestores podem ser mais cobrados por resultados", afirma Kahn.
"Os prefeitos também são os principais interessados, pois os impactos das mudanças climáticas afetarão principalmente as áreas urbanas."
O estudo destaca, por exemplo, que menos da metade do esgoto produzido no país é coletado e, deste volume, apenas 40% é tratado. Neste quesito, o Brasil é 112º do mundo entre 200 países no Índice de Desenvolvimento Sanitário, da Organização Mundial da Saúde.
"Isso é chocante", afirma Eichel. "Melhorias nesta área trariam não só melhorias para qualidade de vida, mas também benefícios significativos para o clima, porque o metano que é liberado pelo esgoto e pelo lixo é mais prejudicial que o carbono."
O relatório aponta também que residências e edifícios comerciais em áreas urbanas respondem por 50% do consumo de eletricidade do país. Se forem cumpridos novos padrões de eficiência energética nestas construções, como aproveitamento da luz natural, poderiam ser economizados no país 25.000 GWh, segundo o estudo.
Em setembro, de acordo com os dados mais recentes da Empresa de Pesquisa Energética, órgão ligado ao ministério de Minas e Energia, o consumo do país foi de 37.701 GWh.
Rafael Barifouse Da BBC Brasil em São Paulo
Fonte: Brasil
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